1 - Portas é um power-point em 3D
2 - Um fascismo periférico
2.1 – O adulador de empresários
2.2 – A veneração das sotainas
2.3 – O patriotismo como manto de cinismo e mentira
2.4 – A “operação Barbarrossa” do pequeno fuhrer
2.5 – O pequeno fuhrer interpreta o sentido da tradição pátria
A condução política do governo passou para as mãos de Portas. É o mais dotado para representar o que Nietzsche define como político: aquele que divide as pessoas entre instrumentos e inimigos;
O mais interessante nos versículos contidos no Guião é a proposta de mercantilização total da sociedade portuguesa, esvaziada dos direitos que não possam ser objeto de compra e venda;
Portas repete a adulação dos chamados empresários, muitos deles gerados pelo financiamento público e estigmatiza os que o não são nem serão, apontados como párias. Essa adulação é uma prestação de serviços com óbvias contrapartidas financeiras;
A lógica da habitual privatização tende a ser ultrapassada pela contratualização com privados, num género de concessão,
com garantias de rendabilidade dadas pelo financiamento público;
A criação de um empresariato dependente do Estado é tão artificial como a tentativa de engrossar uma falsa classe média com trabalhadores independentes, travestidos de empresários em nome individual ou empresas unipessoais;
Portas coloca-se no pedestal do mais genuino patriotismo ocultando as muitas demonstrações de ausência de soberania expostos, tanto nos tratados europeus, como na realidade financeira que vem justificando os cortes. E que são imensas;
Traça o destino dos portugueses com um “não há qualquer possibilidade de superar a emergência financeira sem reduzir a despesa pública; e não há qualquer possibilidade de reduzir a
despesa pública sem ter impacto nos salários das Administrações Públicas e nas aposentações do Estado”;
Qual inquisidor moderno, Portas apresenta os condenados ao sacrifício para que a soberania regresse – aposentados e funcionários públicos – eleitos como os novos judeus, os novos herejes, apontados como inimigos dos “mercados”. Esses, são escolhidos para a primeira linha das vítimas do genocídio em curso e, outros se seguirão, certamente;
Portas adopta relativamente ao Tribunal Constitucional uma “pose de estado”; deixa as ameaças para os trauliteiros de serviço como o Vítor Bento ou o António Barreto ou, para a inimputabilidade dos cargos de suserania – Durão ou Lagarde;
Defende o modelo económico tradicional em Portugal, baseado em baixos salários, pobreza, punção fiscal elevada mas, aligeirada para as camadas possidentes que, insatisfeitas na sua subalternidade no contexto do capital global, canibalizam o seu Estado.
O Guião de um pequeno fuhrer
1 - Portas é um power-point em 3D
Alguns anos atrás, em Istambul, vendedores de pêssegos impediam os clientes de tocar nos frutos. Estes eram organizados de modo habilidoso para que se não visse terem as partes bichosas sido subtraídas, ficando os buracos cuidadosamente fora das vistas dos prováveis compradores.
Portas não é tão habilidoso quanto os vendedores de pêssegos de Istambul;
Portas é, ele mesmo, o verme que é preciso extrair do pêssego para o tornar comestível.
Na sua cabeça e nas dos seus assessores de imagem entende-se que a forma do discurso, com a bandeira por detrás e o ar institucional do personagem, afastam do Guião, as atenções para as grosseiras falsidades, as ideias enviezadas, as tiradas ideológicas sem concretização, as frases que não passam de agregados ocos de palavras.
Chamar Guião para a reforma do Estado ao acumular de frases feitas que enformam o texto do pequeno fuhrer é trágico, ridículo e falso.
Portas ocupou, de facto, o lugar da pileca política que formalmente é o primeiro-ministro. Cavaco, logo no início deste governo marcou um dia por semana para se encontrar com Portas, sabendo-se da pouca consideração que tinha para com o antigo chefe jotinha. E, quando este se viu amputado do seu principal apoio (Gaspar) e obrigado a colocar nas finanças uma secretária daquele, a condução política do governo passou para as mãos do vice-primeiro-ministro, mesmo sem conhecimentos na área económica.
Portas, perante o vazio de competências políticas no PSD até gostará da purga
anunciada dos críticos da direção do PSD que os acusa do desaire eleitoral; e já não dos incêncios florestais porque outubro já estava à espreita. Quanto mais invertebrado estiver o PSD mais Portas sonhará com uma fusão das duas castas, sob a sua tutela. Aliás, o que os divide de substantivo olhando para o cardápio fascizante e genocida dos neoliberais ? Recorde-se que Portas até já foi da casa, do PSD… como foi acerbo crítico de Cavaco, com o seu “Independente” enquanto o impedido Manuel Monteiro cumpria ordens no CDS, numa delegação que acabou por correr mal para o Monteiro.
Portas parece ser o único no governo com pretensões à filosofia política. Ninguém imagina os Macedos nessa função. Um, portador daquela voz de locutor de rádio e ar de alucinado era trucidado por Sócrates, quando tenro chefe da claque PSD na AR; e o outro, está mais empenhado no seu trabalho
de cabouqueiro dos interesses do sistema financeiro na cadeira da Saúde.
Por seu turno. o Aguiar-Branco estará mais dedicado a alargar os seus
contactos para futuras contratações à sua sociedade de advogados.
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Aguiar Branco |
O Pires de Lima, falhada a redução do IVA para a restauração, acaba por se contentar com a pequena redução do IVA, entre discursos sobre a retoma e tiradas ao heroísmo dos empresários… financiados através do não pagamento de impostos ou contribuições para a Segurança Social; como ele próprio diz, não passa de um soldado. Temos o loquaz Maduro, introdutor em Portugal da moda dos “briefings”, aquela partner
de uma sociedade de advogados (a Cristas) representante das empresas da celulose e que assistiu deliciada pela televisão ao festival dos fogos florestais.
Dos restantes, nenhum tem o gabarito do Portas para cumprir o que Nietzsche define como político: aquele que divide as pessoas entre instrumentos e inimigos.