A obra do século em Portugal. A venda da ANA e o que nos espera.
AO MINUTO 16, PAULO MORAIS EXPLICA O ESQUEMA
Falemos de coisas concretas e consumadas: o casamento da ANA uma historieta que tem tudo para sair muito cara.
Passo a explicar: a ANA geria os aeroportos com lucros fabulosos para o seu pai, Estado, que, entretanto falido, leiloou a filha ao melhor pretendente.
Um francês de apelido Vinci, especialista em autoestradas e mais recentemente em aeroportos, pediu a nossa ANA em casamento. E o Estado entregou-a pela melhor maquia (três mil milhões de euros), tornando lícita a exploração deste monopólio a partir de uma base fabulosa: 47% de margem de exploração (EBITDA).**O Governo rejubilou com o encaixe...
Mas vejamos a coisa mais em pormenor.
O grupo francês Vinci tem 37% da Lusoponte, uma PPP (parceria público-privada) e assente numa especialidade nacional: o monopólio (mais um) das travessias sobre o Tejo.
Ora é por aqui que percebo por que consegue a Vinci pagar muito mais do que os concorrentes à ANA. As estimativas indicam que a mudança do aeroporto da Portela para Alcochete venha a gerar um tráfego de 50 mil veículos e camiões diários entre Lisboa e a nova cidade aeroportuária. É fazer as contas, como diria o outro...
Mas isto só será lucro quando houver um novo aeroporto.
Sabemos que a construção de Alcochete depende da saturação da Portela. Para o fazer, a Vinci tem a faca e o queijo na mão. Para começar pode, por exemplo, abrir as portas à Ryanair. No dia em que isso acontecer, a low-cost irlandesa deixa de fazer do Porto a principal porta de entrada, gerando um desequilíbrio turístico ainda mais acentuado a favor da capital. A Ryanair não vai manter 37 destinos em direção ao Porto se puder aterrar também em Lisboa.
Portanto, num primeiro momento os franceses podem apostar em baixar as taxas para as low-cost e os incautos aplaudirão.
Todavia, a prazo, gerarão a necessidade de um novo aeroporto através do aumento de passageiros. Quando isso acontecer, a Vinci (certamente com os seus amigos da Mota-Engil) monta um apetecível sindicato de construção (a sua especialidade) e financiamento (com bancos parceiros).
A obra do século em Portugal.
Bingo! O Estado português será certamente chamado a dar avais e a negociar com a União Europeia fundos estruturais para a nova cidade aeroportuária de Alcochete.
Bingo! A Portela ficará livre para os interesses imobiliários ligados ao Bloco Central que sempre existiram para o local.
Bingo! Mas isto não fica por aqui porque não se pode mudar um aeroporto para 50 quilómetros de distância da capital sem se levar o comboio até lá. Portanto, é preciso fazer-se uma ponte ferroviária para ligar Alcochete ao centro de Lisboa.
E já agora, com tanto trânsito, outra para carros (ou em alternativa uma ponte apenas, rodoferroviária). Surge portanto e finalmente a prevista ponte Chelas-Barreiro (por onde, já agora, pode passar também o futuro TGV Lisboa-Madrid).
Bingo! E, já agora: quem detém o monopólio e know-how das travessias do Tejo? Exatamente, a Lusoponte (Mota-Engil e Vinci). Que concorrerá à nova obra.
Mas, mesmo que não ganhe, diz o contrato com o Estado, terá de ser indemnizada pela perda de receitas na Vasco da Gama e 25 de Abril por força da existência de uma nova ponte. Bingo!
Um destes dias acordaremos, portanto, perante o facto consumado: o imperativo da construção do novo grande aeroporto de Lisboa, em Alcochete, a indispensável terceira travessia sobre o Tejo, e a concentração de fundos europeus e financiamento neste colossal investimento na capital.
O resto do país nada tem a ver com isto porque a decisão não é política, é privada, é o mercado...
E far-se-á. Sem marcha-atrás porque o contrato agora assinado já o previa e todos gostamos muito de receber três mil milhões pela ANA, certo?
O casamento resultará nisto: se correr bem, os franceses e grupos envolvidos ganham. Correndo mal, pagamos nós. Se ainda estivermos em Portugal, claro.
PUBLICADO NO JORNAL DE NOTÍCIAS
23/01/2014 e aí está o previsto...
Base da Ryanair em Lisboa arranca com quatro novas rotas
Companhia de aviação low cost anunciou que fará um investimento 66 milhões de euros na operação.
A Ryanair garante que a abertura da nova base, onde vai instalar um avião, irá movimentar 900 mil passageiros e criar 900 postos de trabalho directos e indirectos, apoiando-se nos cálculos internacionais que indicam que, por cada milhão de passageiros, são criados até 1000 empregos.
Neste momento, a companhia já faz ligações a quatro destinos a partir de Lisboa: Paris, Bruxelas (embora o número de frequências vá aumentar com a utilização de um novo aeroporto, o de Charleroi), Frankfurt e Londres. fonte
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Admiro o esforço e a dedicação deste site e de todas as noticias que são colocadas aqui.
ResponderEliminarA corrupção em Portugal não é só dos políticos mas sim de toda a sociedade Portugal.
Basta ver que todos nós somos formatados logo desde pequenos com essa realidade. A nível familiar, no poder local, nas pequenas empresas, nas instituições e no governo central. A corrupção entranha-se e espalha-se por tudo o que é sitio na sociedade portuguesa. Os meninos lá no poleiro são apenas um reflexo de toda uma sociedade que vive através deste sistema.
Para inverter esta situação temos que mudar as mentalidades que pode ser através deste tipo de iniciativas, mas que só teriam algum efeito significativo se elas fossem feitas pelos nossos governantes no aparelho central.
Como sabemos isso nunca irá acontecer e que apesar de todo o esforço na criação deste site e colocação de artigos todos nós sabemos que serão necessárias gerações, GERAÇÕES para que alguma coisa mude em Portugal!
Em Portugal qualquer cidadão nacional só tem duas opções: a favor ou contra o sistema. Quem está contra só ainda está em Portugal, porque está com dificuldades em sair. Ou então está à espera de um milagre.
Felizmente eu consegui sair e agora que vejo as coisas de uma perspetiva externa apercebo-me como a corrupção é um problema grave na sociedade portuguesa e que existe ai muita gente hipócrita.
O povo queixa-se muito, mas depois vão votar todos nos mesmo, vão continuar a fugir aos impostos e vão continuar a cometer actos de corrupção.
É desde as pequenas coisas: conseguir um licenciamento para conseguir fazer mas obras em casa. Pagar a um presidente da câmara para um piquet da EDP aparecer e reparar o poste de iluminação da sua casa. Votar no PS ou no PSD para conseguir uma posição na câmara municipal, empresa do estado ou uma empresa que tem como principal cliente o estado. O compadrio é algo natural que está no nosso sangue e vai ser difícil acabar com isso. Só educando as pessoas e a sociedade é que se vai conseguir mudar alguma coisa.
Enfim eu posso continuar com inúmeros exemplos, mas o facto é que as noticias que vemos aqui dos grandes golpes são apenas um reflexo do que se passa a nível pessoal com cada família em Portugal.
Se as coisas se alterarem será necessário várias gerações.A mensagem que eu mando para aqueles que são meros mortais como eu. Devo informar que nascemos e um dia destes também iremos morrer. Se estão a passar por um momento difícil das vossas vidas pelo facto de serem portugueses e viverem em Portugal, aviso que não vale a pena ficar a olhar para o relógio a espera que as coisas mudem. Durante o nosso período de vida as coisas não vão mudar em Portugal e se mudarem vocês já não estarão aqui para ver.
Por isso se conseguirem terem uma boa vida mesmo dentro do curral onde o país se encontra, tudo bem. Se não o melhor e pensar em mudar para outro lugar.
Mesmo estando fora de Portugal podemos contribuir com iniciativas de forma a tentar mudar a mentalidade da sociedade portuguesa.
O mais rápido para alterar mentalidades será mesmo com uma guerra, mas isso será difícil de acontecer.
Obrigado Vitor pelo seu comentário e pela sua partilha. Concordo consigo... Portugal não vai melhorar nos próximos 20 anos... vai continuar a criar emprego precário, SNS degradado, ensino degradado, reformas a desaparecer, crises cada vez mais frequentes porque cada vez são mais a roubar e menos a trabalhar...
EliminarO seu testemunho pode ser um momento de esperança para os muitos que a começam a perder.