"Vamos fazer estágios até sermos velhinhos?" 6 em cada 10 postos de trabalho criados correspondem a estágios.

A farsa dos estágios, para ajudar empresários oportunistas. E colocar o estado a pagar os salários dos privados. Não há dinheiro para ajudar os pobres, mas há sempre para ajudar as grandes empresas a ter empregados pagos pelos contribuintes???



"Vamos fazer estágios até sermos velhinhos? Não é solução"
Seis em cada dez trabalhos criados em Portugal são estágios.
Reativar, programa de estágios para maiores de 30.
O estágio profissional de 12 meses está prestes a terminar e Joana já sabe que não vai continuar na empresa. Os zunzuns de uma possível proposta apontam para um salário igual ao inferior ao que recebe actualmente (cerca de 690 euros brutos por mês) e não está disposta a aceitar mais essa exploração. No currículo já tem um estágio curricular não remunerado de nove meses, obrigatório para terminar o mestrado em Psicologia, e quatro meses e meio de trabalho gratuito na empresa onde está agora a terminar o estágio profissional — período em que esteve à espera da aprovação do estágio por parte do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP). Para ser aceite na Ordem dos Psicólogos, terá ainda de fazer mais um estágio profissional de um ano.

A vida de estágio em estágio de Joana (nome fictício) é semelhante à de milhares de portugueses que vêem nesta modalidade a única opção de entrada no mercado de trabalho. Segundo dados do Banco de Portugal divulgados no final de 2014, seis em cada dez postos de trabalho criados no país correspondem a estágios.
Maria Manuel acha urgente que se fale sobre o assunto e se mudem mentalidades: “As empresas tentam normalizar o assunto e apresentar o estágio como uma grande oportunidade e um privilégio que dão às pessoas. Mas estamos a falar de uma forma de exploração e precarização utilizada para suprimir postos de trabalho.” A designer de comunicação sentiu-o na pele. Em 2010, embarcou num "workshop" de Verão de três meses promovido pelo grupo Menina Design.

Eram 30 pessoas e seis seriam seleccionadas para um estágio profissional no fim. Maria passou à fase dois. Mas a aprovação do estágio pelo IEFP tardava e decidiu que não queria trabalhar de graça. Comunicou-o à empresa e foi aguardar o início do estágio para casa. Meses depois, quando as verbas do Estado foram desbloqueadas, a empresa informou-a que já não estava interessada nela: “Disseram-me que a minha paixão pela empresa não era suficiente, já que todos tinham continuado a trabalhar menos eu.”
A empresa de Design por onde Maria Manuel passou esteve recentemente na ribalta por ter sido a presença portuguesa no filme “Cinquenta sombras de Grey”. Mas é também uma figura assídua em plataformas de denúncia de precariedade laboral como os Precários Inflexíveis ou o Ganhem Vergonha, que lançou uma campanha de crowdfunding para editar um livro com denúncias como essa. “Fazendo-se valer da visibilidade internacional”, o Menina Design Group tem “muita gente a trabalhar de graça”, acusa Maria Manuel. “As pessoas ficam iludidas à espera que alguma magia aconteça.” O "workshop" gratuito em que a designer de 30 anos participou em 2010 não foi um evento único. Oportunidade de aprendizagem? “Não”, responde categoricamente. Durante o "workshop", contou ao P3, os jovens designers já produzem peças comercializadas e mesmo quem não é seleccionado para o estágio profissional é convidado a “continuar a aparecer” na empresa. “Têm ali um conjunto de malta a trabalhar de graça, tanto em produção de mobiliário para as marcas próprias como na produção de serviços vendidos a outras marcas.” O P3 contactou a Menina Design,
mas até à hora de publicação deste artigo não obteve qualquer resposta.

É do Design, Arquitectura, Psicologia e algumas áreas humanísticas que continua a chegar o maior número de queixas. Mas o “abuso inaceitável” da figura do estagiário é “cada vez maior e abrange cada vez mais áreas”, alerta Adriano Campos, dos Precários Inflexíveis. “Temos encontrado ofertas de estágio para operadores de "telemarketing" ou vendedores em lojas de roupa. É um absurdo.” Os estagiários, recordam os Precários Inflexíveis, têm exigências de um posto de trabalho normal, cumprem um horário, não têm férias, se fizerem estágios de nove meses não têm direito a subsídio de desemprego no fim. E sofrem ainda uma “desconsideração”, sendo sempre colocados num segundo escalão, assumindo frequentemente tarefas que não são a sua função. “O estágio é claramente uma forma de nivelar por baixo a entrada no mercado de trabalho”, lamenta Adriano Campos.

 “Mural da vergonha”
Neste sábado, dia 11, vai ser inaugurado no Porto (Galeria Geraldes da Silva) um “mural da vergonha”, onde todos podem colocar propostas absurdas de emprego e estágios (“como a da Danone que dava paletes de iogurte em troca de emprego ou as de empresas que pedem experiência profissional, domínio de três línguas e 12 horas de trabalho diário e oferecem um salário mínimo”, exemplifica Adriano) e pode assistir-se à peça de teatro fórum M.E.T.2., uma produção conjunta do Núcleo de Teatro do Oprimido de Braga e da Associação Tartaruga Falante, que aborda as questões da precariedade, estágios e direitos laborais e apresenta uma crítica ao discurso do empreendedorismo. As iniciativas fazem parte do evento SOS Estagiário, organizado pelos Precários Inflexíveis, onde vão ouvir-se relatos de estagiários (qualquer pessoa pode aparecer), desenhar-se um “caderno reivindicativo” e pensar numa “forte campanha” que estará depois nas ruas e será levada à Assembleia da República em formato de petição.

Algumas das exigências a incluir estão já bem delineadas na cabeça dos activistas: maior fiscalização dos estágios por parte da Autoridade para as Condições do Trabalho, limitação do acesso a estágios por parte das empresas (com a obrigatoriedade de contratação de um em cada dois estagiários), alargamento dos estágios de nove meses para 12 (dando às pessoas a garantia de que têm, pelo menos, acesso ao subsídio de desemprego no fim do contrato), garantia de respostas mais céleres do IEFP aos processos e novas soluções para quem é obrigado a fazer estágios para entrar nas respectivas Ordens (como a dos Arquitectos, Advogados ou Psicólogos, por exemplo).
Recentemente, uma proposta de “'summercamp' em plena Primavera” publicada no Facebook pela empresa de arquitectura Polígono gerou uma onda de indignação nas redes sociais onde se fala de “escravatura contemporânea”. André Pereira revelou num blogue uma troca de emails com a empresa, que lhe propunha uma remuneração de 500 euros por dois meses por um “trabalho rijo e intenso fisicamente”, mas que “seguramente terá imensa visibilidade e repercussão”.

“É preciso contrariar esta ideia de que as empresas fazem um favor aos trabalhadores por lhes darem um estágio. A sociedade precisa destas pessoas e ser integrado é um direito”, sublinha Adriano Campos. As perspectivas de uma reviravolta desta “lógica instalada” não são, no entanto, animadoras. O Governo publicou no dia 20 de Março em Diário da República o Reativar, programa de estágios de seis meses destinados a maiores de 30 anos inscritos em centros de emprego há mais de um ano. “É uma extensão da austeridade. Este Governo especializou-se em ocupar os desempregados com estágios e cursos e desde que assumiu funções fez com que se perdessem milhares de postos de trabalho.”
A empresa onde Maria Manuel está há dois anos com um contrato a tempo indeterminado mudou o foco e vai deixar de precisar de uma designer. Em breve estará desempregada. Tal como Joana. O futuro? Provavelmente passa por emigrar, lamenta Maria Manuel: “Emocionalmente custa-me. Mas em Portugal ou se é empreendedor ou se salta de estágio em estágio. Vamos fazer estágios até sermos velhinhos? Não é solução.” P3

REPORTAGEM DE CASOS DE ANÚNCIOS DE EMPREGO ONDE SE OFERECEM SALÁRIOS MISERÁVEIS. HISTÓRIAS DE VIDA DE UM PORTUGAL QUE JÁ NINGUÉM DESEJA PARA VIVER

ARTIGOS SOBRE O TEMA

  1. PORTUGAL ENTRE OS QUE TRABALHA MAIS HORAS, MAS PRODUZ MENOS.
  2. Pagamos os empregados do Ulrich, e os desempregados do Ulrich? A farsa dos estágios, para ajudar empresários oportunistas.
  3. Portugal tem excesso de desempregados, de licenciados e de universidades
  4. Quem cria empregos? Não, não são os ricos. Essa é apenas a desculpa para proteger os ricos dos impostos.
  5. Salários em Portugal estão adequados à baixa produtividade dos trabalhadores
  6. Horas de trabalho versus produtividade. A corrupção desmotiva?
  7. Maior lista de tachos e boys de Portugal, para estes não há desemprego
ESTADO PAGA EMPREGADOS AOS PRIVADOS
As empresas despedem 7, 8, 20, ou 300 funcionários, os que lhes convier... para depois contratarem estagiários, já DESPOJADOS de direitos, e agora pagos pelos contribuintes.
Um caso para exemplo: uma clínica dentária, despediu a sua recepcionista, que realizava serviço de recepção, assistente, limpeza, contabilidade, trabalhos técnicos, etc etc... a troco do salário mínimo nacional. 450 euros.
O proprietário da clínica, decidiu despedir a recepcionista, quando soube que podia ter uma empregada paga pelo estado. E assim, contratou uma dentista estagiária, licenciada, para realizar todos os serviços da anterior funcionária, incluindo limpezas, etc.
O mais fantástico de todo este processo é que a clínica apenas lhe pagará pouco mais de 100 euros, porque o estado paga, aos licenciados estagiários, 600 euros, e o patrão apenas tem que pagar uma pequena percentagem. Nós contribuintes estamos a pagar os desempregados e os empregados?
Em suma, o patrão está felicíssimo... as funcionárias são vitimas do sistema, e o contribuinte, o enganado e roubado do costume, está a pagar subsidio de desemprego à recepcionista despedida, e a pagar o salário, (subsidio de "emprego") à recente contratada... o que perfaz, cerca de 1000 euros de despesa mensal para o estado... e uma poupança de 300 euros/mês para o patrão.
Criar emprego assim é fácil, quando são os impostos a pagar empregados a empresas privadas.

6 comentários:

  1. Exactamente... Se uma empresa não tem necessidade não vai contratar mais trabalhadores nem que isso só lhe custe um euro. Dai que estas medidas de apoio ao emprego sejam todas um mecanismo encapotado de transferência de dinheiro do estado para privados. Em especial para os grandes grupos econômicos que são aqueles que, pela sua dimensão, conseguem aproveitar estes regimes em grande escala.

    O emprego só aumenta quando a procura, externa ou interna, aumenta, porque, em consequência, da se o acréscimo do volume de trabalho que justifica a criação de emprego. Estes estágios servem para tapar o sol com a peneira, nada mais.

    Mas o problema é complexo e reside na própria estruturação do ensino, em especial do superior, e quem se pretende inserir num mercado desta natureza não pode ir com ilusões. O trabalho começa na faculdade, tem de dar o máximo para estar entre os melhores e assim arranjar uma verdadeira oportunidade de emprego, sendo que estas ainda existem, no entanto são apenas para pessoal de topo, ou com óptimas relações pessoais, sendo que na medida em que a procura diminui e a oferta aumenta o crivo a partir do qual alguém é considerado de topo, ou digno de uma verdadeira oportunidade, é cada vez mais estreito.

    Bom post zita

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  2. Uns dizem "A geração dos 500 €", eu digo "A civilização do espetáculo", que é também o titulo de um livro.

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  3. Eu tenho 64 anos estou quase de muletas e tenho de trabalhar para justificar a minha futura reforma ,apesar de andar a volta dos médicos para me darem uma solução final ....mas resolveram que eu tenho que trabalhar apesar de já não dar o tal rendimento que dá prejuízo ao patrão tenho da acabar com as datas legais para obter uma reforma mesmo dando o tal prejuízo a empresa ,pois é assim que eles querem .
    MUITO MAL VAI ESTE PAÍS , CCOM TÃO ELEVADA TACHA DE DESEMPREGO QUE MUITAS VEZES SE PODIAM EVITAR ,SÓ POR CAUSA DE MUITOS SENHORES GOVERNANTES NÃO QUEREREM FICAR MAL VISTOS !!!

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    1. Quando os quase 60% dos portugueses que desperdiçam votos na abstenção, brancos e nulos, decidirem usar essa força em votos válidos contra o ps psd cs, a maçonaria e a corrupção afunda-se com eles... pois são esses partidos que sustentam a maçonaria e corrompem o sistema. Infelizmente os corruptos continuam a dizer ao povo que se devem abster, disfarçados de revolucionários, e o povo acredita. Temos que ser nós a reeducar os eleitores. Todos ás urnas contra o ps psd cds. Não faltem no dia do julgamento, no dia em que o povo tem o poder de correr com os corruptos

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  4. O mais importante para este desgoverno é desviar as atenções com o caso Sócrates para fazerem o que quiserem ........

    Segundo a imprensa internacional ,este juiz já não sabe o que fazer ......está-se adivinhar um escândalo para a justiça se não se arranjarem provas sem serem manipuladas por alguém ,depois é que a justiça Portuguesa que já agora é apontada como muita má ,vai ter uma imagem não só em Portugal como no estrangeiro péssima e degradante .vamos espera para ver .Será que isto é tudo uma manobra partidária ???Será que esta direita que nos governa está bem de saúde ???Será que que isto é tudo um complô ,para queimar outro partido da oposição ???O TEMPO VAI DIZER A VERDADE !!!Por Anti-partidario

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    1. Este está em julgamento o Loureiro... temos que aguardar... mas temos que começar a nossa luta. O povo tb tem o poder de fazer justiça-- Quando os quase 60% dos portugueses que desperdiçam votos na abstenção, brancos e nulos, decidirem usar essa força em votos válidos contra o ps psd cs, a maçonaria afunda-se com eles... pois são esses partidos que sustentam a maçonaria. Infelizmente os corruptos continuam a dizer ao povo que se devem abster, disfarçados de revolucionários, e o povo acredita. Temos que ser nós a reeducar os eleitores. Todos ás urnas contra o ps psd cds. Não faltem no dia do julgamento, no dia em que o povo tem o poder de correr com os corruptos

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Olá caro leitor, obrigada por comentar... sei que apetece insultar os corruptos, mas não é permitido. Já não podemos odiar quem nos apetece... (enfim) Insultem, mas com suavidade.
Incentivos ao ódio, à violência, ao racismo, etc serão apagados, pois o Google não permite.