AS MENTIRAS DE SÓCRATES NA PARQUE ESCOLAR
O Conto do Vigário, de Fernando Pessoa é mais uma prova de que em Portugal temos uma cultura enraizada, favorável à corrupção. Gostamos dos Chicos espertos e dos sabidos, admiramos os políticos corruptos, que ostentam milhões, mesmo sabendo que o dinheiro que ostentam, nos foi roubado.
Mais uma prova da nossa cultura, pro corrupção.
As nossas escolhas, infelizes
Manuel Sobrinho Simões, médico, investigador e professor universitário, concorda
Paulo Morais, subscreve
Um grande exemplo de corruptos admirados, há décadas.
Mentalidade da idade média.
Sou admiradora de Fernando Pessoa. Mas neste conto, que relata a história de um vigarista, Fernando Pessoa, deixa bem claro a admiração que nutre por ele e não lhe poupa elogios.
O próprio autor escolheu como titulo para este conto; "Um grande português" Caso não queiram ler o conto, pelo menos, reparem no comentário final de Fernando Pessoa e a escolha dos adjectivos que, para ele, descrevem melhor um vigarista.
O Conto do Vigário. Os vigaristas, são grandes portugueses.
"Vivia há já não poucos anos, algures, num concelho do Ribatejo, um pequeno lavrador, e negociante de gado, chamado Manuel Peres Vigário.
Da sua qualidade, como diriam os psicólogos práticos, falará o bastante a circunstância que dá princípio a esta narrativa. Chegou uma vez ao pé dele certo fabricante ilegal de notas falsas, e disse-lhe: «Sr. Vigário, tenho aqui umas notazinhas de cem mil réis que me falta passar. O senhor quer? Largo-lhas por vinte mil réis cada uma.» «Deixa ver», disse o Vigário; e depois, reparando logo que eram imperfeitíssimas, rejeitou-as: «Para que quero eu isso?», disse; «isso nem a cegos se passa.» O outro, porém, insistiu; Vigário cedeu um pouco regateando; por fim fez-se negócio de vinte notas, a dez mil réis cada uma.
Sucedeu que dali a dias tinha o Vigário que pagar a uns irmãos negociantes de gado como ele a diferença de uma conta, no valor certo de um conto de réis. No primeiro dia da feira, em a qual se deveria efectuar o pagamento, estavam os dois irmãos jantando numa taberna escura da localidade, quando surgiu pela porta, cambaleando de bêbado, o Manuel Peres Vigário. Sentou-se à mesa deles, e pediu vinho. Daí a um tempo, depois de vária conversa, pouco inteligível da sua parte, lembrou que tinha que pagar-lhes. E, puxando da carteira, perguntou se, se importavam de receber tudo em notas de cinquenta mil réis. Eles disseram que não, e, como a carteira nesse momento se entreabrisse, o mais vigilante dos dois chamou, com um olhar rápido, a atenção do irmão para as notas, que se via que eram de cem.
Houve então a troca de outro olhar.
O Manuel Peres, com lentidão, contou tremulamente vinte notas, que entregou. Um dos irmãos guardou-as logo, tendo-as visto contar, nem se perdeu em olhar mais para elas. O vigário continuou a conversa, e, várias vezes, pediu e bebeu mais vinho. Depois, por natural efeito da bebedeira progressiva, disse que queria ter um recibo. Não era uso, mas nenhum dos irmãos fez questão. Ditava ele o recibo, disse, pois queria as coisas todas certas. E ditou o recibo – um recibo de bêbedo, redundante e absurdo: de como em tal dia, a tais horas, na taberna de fulano, e «estando nós a jantar (e por ali fora com toda a prolixidade frouxa do bêbedo...), tinham eles recebido de Manuel Peres Vigário, do lugar de qualquer coisa, em pagamento de não sei quê, a quantia de um conto de réis em notas de cinquenta mil réis. O recibo foi datado, foi selado, foi assinado. O Vigário meteu-o na carteira, demorou-se mais um pouco, bebeu ainda mais vinho, e daí a um tempo foi-se embora.
Quando, no próprio dia ou no outro, houve ocasião de se trocar a primeira nota, o que ia a recebê-la devolveu-a logo, por escarradamente falsa, e o mesmo fez à segunda e à terceira... E os irmãos, olhando então verdadeiramente para as notas, viram que nem a cegos se poderiam passar.
Queixaram-se à polícia, e foi chamado o Manuel Peres, que, ouvindo atónito o caso, ergueu as mãos ao céu em graças da bebedeira providencial que o havia colhido no dia do pagamento. Sem isso, disse, talvez, embora inocente, estivesse perdido.
Se não fosse ela, explicou, nem pediria recibo, nem com certeza o pediria como aquele que tinha, e apresentou, assinado pelos dois irmãos, e que provava bem que tinha feito o pagamento em notas de cinquenta mil réis. «E se eu tivesse pago em notas de cem», rematou o Vigário «nem eu estava tão bêbedo que pagasse vinte, como estes senhores dizem que têm, nem muito menos eles, que são homens honrados, mas receberiam.» E, como era de justiça foi mandado em paz.
O caso, porém, não pôde ficar secreto; pouco a pouco se espalhou. E a história do «conto de réis do Manuel Vigário» passou, abreviada, para a imortalidade quotidiana, esquecida já da sua origem.
Os imperfeitíssimos imitadores, pessoais como políticos, do mestre ribatejano nunca chegaram, que eu saiba, a qualquer simulacro digno do estratagema exemplar. Por isso é com ternura que relembro o feito deste grande português, e me figuro, em devaneio, que, se há um céu para os hábeis, como constou que o havia para os bons, ali lhe não deve ter faltado o acolhimento dos próprios grandes mestres da Realidade – nem um leve brilho de olhos de Macchiavelli ou Guicciardini, nem um sorriso momentâneo de George Savile, Marquês de Halifax.
Contado por Fernando Pessoa.
(publicado pela primeira vez no diário Sol, Lisboa, ano I, nº 1, de 30/10/1926, com o título de «Um Grande Português». Foi publicado depois no Notícias Ilustrado, 2ª série, Lisboa, 18/08/1929, com o título de «A Origem do Conto do Vigário».
"Quem é que nunca foi aliciado
ResponderEliminarPor um desconhecido
A fazer um negócio da China
Para depois acabar enrolado
Sem um tostão furado
A rogar pragas ao gatuno
Que deu à sola com a massa
Há centenas por aí
À espera de encontrar
Um pato p'ra ovo pôr (quá quá quá)
Vão convencer-te a comprar o Marquês de Pombal,
O Campo Grande ou os Jerónimos
Tu tu ru ru ru ru, vígaro cá, vígaro lá
Quem nunca foi apalpado
No metropolitano
E deu pela falta da carteira
Quem nunca foi adormecido
Com a canção do bandido
Que tenta tocar-nos com talento
A malta da banda do São Bento
Há centenas por aí
À espera de encontrar
Um pato p'ra ovo pôr (quá quá quá)
Vão convencer-te a comprar o Marquês de Pombal,
O Campo Grande ou os Jerónimos
Tu tu tu ru ru ru ru, vígaro cá, vígaro lá
Vigaro cá, vígaro láaaaaaaaa!" Lena D´ Água
Final o que significa corrupção?/Dos muitos sinónimos,o Dicionário/ dá-nos,desta palavra,significado vário/como por exemplo, desmoralização.
ResponderEliminarMas para quem deseje escolher/cito aqui alguns do Dicionário/
que podem servir de mostruário/para qualquer homem ou mulher.
Adulteração,mácula,corrompimento/contaminação,peita ou depravação/
dissolução,perversão,envilecimento/fraude,suborno ou deterioração.
Corromper é portanto adulterar/é peitar,é subornar,é envilecer/
é depravar,é poluir,é perverter/é contaminar,seduzir,falsificar.
E na Política ou Arte de Governar/e também nas várias Religiões/
há os troca-tintas,os aldrabões/que o Povo conseguem ludibriar.
Para a corrupção acontecer/há sempre mais que um autor/há o agente activo corruptor/e há o que se deixa corromper.
Tanto o católico como o ortodoxo/querem o Povo corromper,ludibriar/
mantendo,da Religião o paradoxo/e a corrupção pode assim medrar.
Um Hidalgo español,reaccionário/inventou,do Jesuitismo,a Companhia/
e a doutrina dum Jesus fictício,lendário/foi refinada na sua essência e demagogia.
Apesar de toda a técnica e Modernismo/e das Ciências a sua constante evolução/a Igreja aconselha o Cristianismo/para irradicar do Mundo,a corrução.
Corrupção a todos os níveis,afinal/desde o Plebeu até ao Fidalgo
Barão/desde o Rèpublicano ao Príncipe Real/desde o Pontífice Romano ao Sacristão.
Lá diz o conhecido e popular Ditado:/-Se roubas um pão,és um ladrão
e ao invés,diz por outro lado:-Se roubas um milhão,és um Barão.
Hoje em dia como antigamente/o Partido Popular com a Opus Dei/ apoia,da Monarquia,o seu Rei/mesmo com Liberalismo irreverente.